Afirma-se Digitalmente Preservando a Identidade
Publicado em Nov, 15, 2021

‘Resiliência e Recuperação’ deram o mote para uma conferência em que se falou de boas perspectivas mas que alertou para danos ao património e para possíveis consequências de novas vagas de covid-19 por todo o mundo.

A imagem de uma lagartixa nos cartazes promocionais da XIV edição da Conferência Anual do Turismo, que ontem se realizou no Centro de Congressos da Madeira, servia de metáfora para a situação do sector do Turismo. Privados dos turistas que eram o seu ‘ganha-pão’, à conta da pandemia’, eis que tal como uma lagartixa que perde o rabo, é preciso regenerar-se. O evento serviu para traçar perspectivas de futuro, mas também deixou olhares críticos à forma como se tem olhado para a ilha.

A iniciativa da Delegação da Madeira da Ordem dos Economistas arrancou com algumas considerações à forma como têm chegados os apoios que viriam a suportar uma retoma da economia. “Há ano e meio que nos acenam com um PRR”, uma bazuca que se espera há mais de um ano. Paulo Pereira deixou duras críticas sobre a aplicação deste fundo, que ainda não chegou, mas que é entendido como uma espécie de ‘salvação’.

O economista e presidente da delegação da Madeira da Ordem dos Economistas considerou que o que mais falta a Portugal e à Madeira é capital. A recuperação tem de contar com incertezas “quanto ao que será a atitude dos governantes” da aplicação de medidas restritivas. Os mercados que tradicionalmente são concorrentes da Madeira vão também regressar em força e há perspectiva de aumento de preços de transporte de produtos, pelo que reduz o lucro das empresas. “Devemos focar o nosso esforço naquilo que conseguimos solucionar”. referiu Paulo Pereira, dizendo ser importante debater o tema da recuperação.

Setembro trouxe mais 1,2% de desembarques

O secretário regional de Turismo e Cultura referiu que. em Setembro, a Madeira registou um acréscimo de 1,2% relativamente a passageiros desembarcados, comparativamente a Setembro de 2019. Eduardo Jesus fez questão de ressalvar que a APAVT teve a Madeira como destino preferido, ao longo de dois anos, representando uma grande procura por parte do mercado nacional.

Eduardo Jesus, cuja participação ocorreu através de uma mensagem em vídeo, frisou que as medidas que têm vindo a ser aplicadas surgem de forma “táctica”, maximizando os recursos à disposição. A mensagem de que a Madeira é uma Região segura torna-se também crucial para vender o destino, algo que foi possível graças à Certificação Contra Riscos Biológicos e também pela criação do ‘corredor verde’.

A importância da vacinação

O primeiro orador foi Rui Constantino, que fez questão de frisar a importância da vacinação para a retoma do Turismo. O economista chefe do Santander estima que, a nível nacional, o contributo do sector do turismo reduziu para 8% do PIB, com uma redução do emprego de 16%, devido à pandemia. Tal como já havia referido Eduardo Jesus, as medidas sanitárias implementadas vieram a introduzir uma sensação de segurança, que se reflecte nos dados mensais. A receita por quarto disponível está em recuperação, com os dados de Agosto a ultrapassarem os níveis existentes anteriormente. Os hotéis com taxas de ocupação “decentes” mostram a dinâmica de recuperação. A estratégia na Região foi a mesma que a do país, ou seja, reduzir a disponibilização de camas, sendo um cenário que tem vindo a reverter-se.

No entanto, cerca de 60% dos turistas chega a Portugal de países da Europa central, cujas taxas de vacinação ficaram aquém do desejado. o que merece especial atenção. Isto pode significar que existam confinamentos pontuais o que, consequentemente, levará a uma diminuição mais ou menos pontual do número de viajantes desses mesmos países.

Novos perfis de turistas

Cristina Cabral Ribeiro, sócia da network da PwC Legal, indicou que a recuperação do turismo da Europa deverá acontecer em 2024 e acrescentou que Lisboa foi a região do país mais impactada pela quebra do turismo, seguida da Madeira e dos Açores. No entanto, de olhos postos no futuro, falou da importância de nos adaptarmos a turistas com perfis diferentes dos habituais.

No caso da Madeira, os números de dormidas são menores, por passageiro. Eventualmente, existem mais turistas nacionais que têm estadias mais curtas, indicou Cristina Cabral Ribeiro. “Há muitas pessoas que vieram uma ou duas vezes à Madeira. A questão é se elas voltaram, por isso é preciso ter cuidado com eventuais descidas na procura”, referiu. Por esse motivo, ressalvou que, antes, os turistas que visitavam a Região eram maioritariamente seniores, mas que hoje existem outros perfis.

“A covid-19 trouxe-nos um conjunto de diferenças na forma de fazermos turismo”. A geração Z viaja sozinha, por exemplo, e as reservas de última hora também têm de ser tidas em conta, uma vez que as pessoas fazem planos mais ‘em cima da hora’. “Se queremos atrair as pessoas mais novas temos de começar a compreendê-las”, indica a advogada. Além disso, temos de perceber que as pessoas viajam ‘em bolha’, que se movem num grupo de amigos mais restrito.

Entre as lições que advogada retirou da ‘experiência’ covid é a necessidade da autenticidade e da forma como tratamos o turista. “Os turistas não querem fazer turismo na Madeira igual a qualquer outra parte do mundo”, frisou.

Internacionalização para fazer crescer competitividade

Quem também lida de perto com as exigências e adaptações do sector é o presidente do Turismo de Portugal. Luís Araújo fala numa imagem amigável e atractiva que é preciso reforçar. A mobilidade deve ser tida em conta, até porque a conectividade aérea na Madeira apresenta melhores indicadores do que em 2019. A internacionalização deve ser uma prioridade para reforçar a competitividade do país.

“A nossa capacidade de cativar pessoas lá fora depende muito da nossa visibilidade”, indicou o presidente do Turismo de Portugal. Salientou que Portugal é procurado “como um todo”. A título de exemplo, recorreu a um quadro com um estudo sobre a forma como os britânicos olham para Portugal, encarado de forma “tradicional, amigável, divertida, original”. Já para os espanhóis, somos “surpreendentes, diferentes” e que é preciso conhecer. A competitividade faz-se também através da internacionalização das marcas turísticas. No fundo, levar as marcas nacionais “lá para fora”, criando parcerias e redes de distribuição.

Luís Araújo apelou ainda à participação das empresas madeirenses no acesso aos apoios disponibilizados pelo Turismo de Portugal. Estamos a falar em cerca de 6 mil milhões de euros que podem ser distribuídos por todo o país, mas que ainda conta com pouco interesse por parte dos madeirenses.

Preservação da identidade

João Welsh disse ser fundamental olhar o património e preservá-lo e à sua identidade. O CEO da J.W. Holding considerou que “um destino como a Madeira vai viver sempre dos mercados tradicionais” e é necessário preservá-los e ao património que querem conhecer.

Para o empresário, a competitividade sustentável do destino passa por definir objectivos como a maximização de receitas do destino, por turistas e per capita dos accionistas (madeirenses). Os activos estratégicos, na sua opinião, são a natureza e o património cultural e edificado. É necessário “coerência e um fio condutor com as especificidades da ilha”, isto porque “o território não é um produto transformável”. “Temos de ter muita cautela com a forma como desenvolvemos”, referiu, indicando que precisamos encontrar quem nos quem visitar, sem nos transformarmos naquilo que não somos. “O destino turístico não segue a lógica do marketing tradicional”, pois o produto é sempre o mesmo e não se pode transformar.

João Welsh diz que a narrativa política é assimétrica com a erosão, ano após ano, do mar, da natureza e dos seus principais activos. “Ouvimos falar de autenticidade e depois destruímos tudo”, critica.

Desafios que carecem de adaptação

Sérgio Costa apontou algumas dificuldades sentidas pela hotelaria na recuperação após a pandemia. A subida da inflação em todo o mundo condiciona também o rendimento disponível no final do mês e que poderia ser usado para férias. A pandemia continua presente e “longe de ser resolvida”.

O director de operações do grupo Four Views, avança que, quanto à distribuição, estamos ainda muito dependentes da operação tradicional com contratos feitos, com um ano de antecedência, com preços até Outubro de 2022. “Tentem fugir da pura operação tradicional, criem restrições e virem-se para os on-line”, que dão possibilidade de adaptar os preços. No fundo, olhar para as reservas através das plataformas digitais como uma oportunidade.

Já olhando os aspectos positivos, falou do “excelente” trabalho do Associação de Promoção da Madeira, que possibilitou rotas directas de países que nunca antes tinham vindo para a Madeira. “Esperemos que estas rotas se mantenham”, frisou. Sérgio Costa também salientou o trabalho da Saúde no que concerne à pandemia.

O director de operações do Four Views indica que se tem registado mais procura de “última hora”. “Vemos um novo tipo de cliente”, salientou, indicando que nos encontramos no Inverno IATA, mas que vemos muitos jovens turistas na rua. Esse é um motivo de optimismo.

Uma sociedade mais sustentável

O Bastonário da Ordem dos Economistas considerou que a conferência Anual de Turismo deixa pistas para traçar o futuro, desenvolvendo a ideia de que Portugal é um país inovador. Contudo, salienta ser necessário garantir a preservação do património. No fundo, uma sociedade mais sustentável.

O economista indicou que, apesar de tudo, a economia tem recuperado em Portugal, tal como na Europa. Rui Leão Martinho salientou que é preciso olhar para as pessoas e ver o que precisam para poderem viajar.

RETOMA COMEÇA A SER NOTADA, MAS HÁ RECEIOS QUE NOVAS VAGAS DE COVID-19 TRAVEM PROCURA LUÍS ARAÚJO APELA A QUE EMPRESAS DA MADEIRA ACEDAM A APOIOS DO TURISMO DE PORTUGAL

Conferência Anual do Turismo contou com grande participação e abordou os temas ligados à recuperação do sector apôs a pandemia e a resiliência necessária para tal. FOTOS HlELDER SANTOS/ASPRESS

Rui Constantino alertou para importância da vacinação.

João Welsh teceu críticas ã forma como está pensada a estratégia.

Final da conferência contou com espaço para perguntas e respostas.

| DN Madeira | 13-11-2021

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